terça-feira, junho 30, 2009

Sobre rosas

"rien ne te vaut"
Rainer Maria Rilke - Les Roses, III

Proíbo que ele escreva sobre rosas.
Não há rosas, nem flor suficiente
que se baste na flor:
mas não se a vê bastar letradamente.

É rosa, toda rosa, porque vence
o escrever dela flor no verso e prosa.
Flor escrita inexiste:
que pétala ou espinho susta a glosa?

E a glosa cheira ao reles dia-a-dia
que nem a poesia houve evitar.
Rosas cheiram à rosa:
flor só com flor se pode ladear.

Ah, não se invente glória a tal poeta
que crê serem as letras glamurosas:
por ser credor de nada,
proíbo que ele escreva sobre rosas.

Que não ouse tocar com rima fácil
a rosa que transcende e em si contém-se,
que é flor e, flor além,
é rosa, toda rosa, porque vence.

Que uso ele fez da rosa pr'elevar
prosa e verso ao livel da maestria?
'Screver desfez a flor
e a glosa cheira ao reles dia-a-dia.

Nenhum comentário: