Brasília. Tudo não passou de um equívoco da Imprensa Oficial. Isso mesmo: os atos secretos do Senado, que derrubaram em junho José Sarney da Presidência da Casa, foram todos publicados. O descuido denuncista da imprensa, como havia classificado, no auge da crise, o Presidente Lula, não curou de ter notado que os atos do Senado haviam sido equivocadamente publicados no espaço dos atos do Executivo no Diário Oficial. Estavam todos eles junto aos editais do Ministério da Integração Nacional.
A descoberta do engano desencadeou um novo escândalo. O Jornal Folha de S. Paulo publicou uma entrevista exclusiva do auxiliar de escritório João da Silva denunciando que o povo não lê o Diário Oficial. Essa seria a verdadeira causa para se ter acreditado na imprensa, pois se o Diário Oficial fosse regularmente lido, alguém teria notado o equívoco antes da queda de Sarney.
João da Silva teria dito ao repórter do jornal que só um ou outro jornalista 'perderia o seu tempo' lendo o Diário para selecionar fatos mais chocantes no meio social para repetir - com outra roupagem - nos veículos para os quais trabalha. Disse também que existe um grande esquema de desvio dos exemplares do diário para uma máfia de carrinheiros de papel, quando não seguem pura e simplesmente para a lata de lixo orgânico.
O fato revoltou os parlamentares. Arthur Virgílio (PSDB-AM) disse que "é sempre assim no Brasil. Todo popular é corrupto. Nós políticos não podemos mais confiar no povo". Renan Calheiros (PMDB - AL) foi mais cauteloso: "as acusações são graves, precisam ser investigadas. Mas tem fundamento." Sarney (PMDB - AP), em tom bastante ressentido, disse de sua residência: "O que mais revolta no povo é esse descaso para com o Senado. Imagine: fui crucificado. Quase que meu mordomo e minha filha foram também!".
Funcionários fantasmas do Congresso Nacional e parentes de senadores encontraram páginas do Diário Oficial recortadas para fazer bandeirinhas de São João em várias cidades do Brasil. "Eu vi minha nomeação subir aos céus num balão de festa junina!", disse um neto de senador que não quis se identificar.
Hercílio Figueiroa Albuquerque, líder da Classe dos Emergentes, disse ser muito cedo para tirar quaisquer conclusões, mas que acredita ainda na instituição povo. Rita Baiana, representante dos quilombolas, falou que a acusação era falsa e que os Diários Oficiais são sim lidos. "O que acontece é que nós somos especialistas em leitura dinâmica e memorização, não precisamos manter os Diários Oficiais conosco". Perguntada quanto ao fato de não terem se dado conta do equívoco da Imprensa Oficial, disse: "isso foi um erro deles. Pergunte a eles."
Marquinho Pirueta, chefe do Sindicato dos Carrinheiros de Papel, disse que as acusações são levianas. "O Senado tem que me respeitar. Veja a minha biografia, eu sou do povo. Vou me preocupar com questões mínimas? Quem é o Senado pra me acusar?"
Senadores prometeram ocupar o Complexo do Alemão com o BOPE em protesto contra o povo no próximo final de semana.
2 comentários:
No começo eu quase acreditei. =D
Mas que só jornalista (e olha lá) lê o diário oficial, e mesmo assim para arranjar em quem dar bordoada, isso é verdade.
Realmente não leio diario oficial. Me senti mal por perder tamanhas perolas.
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