quarta-feira, janeiro 23, 2008

Poemeto erótico

Mar teu corpo; tua saliva, espuma;
Desce rija do morto Urano a agulha:
Eis a distinta ira de Afrodite
Que com rápida fome te alvoroça,
Em guarda pronta, com minh’alma troça,
Dócil criada que é do apetite.

Da minha boca meu cigarro fumas,
Tão sagaz e langorosa, com umas
Tragadas que de meu logo rendido
Pudor chupam o último vestígio.
Sou em vestes plenas já teu nu lígio,
Que o que não és abandona ao olvido.

E nas trilhas do que não deixo esquecer-me
Busco as serras que vem a oferecer-me
Tua blusa que ao chão pronto se arria.
Mas se mais baixo num repente aponto,
Danças, disfarças, me afastas no conto
de qu’é cedo para chegar à pia.

Como dizer que o encontro é primeiro
Com solene voz em corpo faceiro?!
Mas nada vale insistir eu perplexo,
Que por ti bastam as preliminares
- O vão júbilo das preliminares,
que sequer põe tua boca em meu sexo.