segunda-feira, setembro 21, 2009

Na sociedade dos poetas

um beijou o verso escrotal do outro
- com as cautelas do estilo -
e beberam vinho, chá dos malditos

sexta-feira, setembro 18, 2009

O outro azul

Tudo em ti traz o traço humano e vivo:
Teu rosto chora, ri teu rosto e grita,
O cabelo ondula, toca o ombro e salta
E cai na boca, e a boca morde e vibra;

Até mesmo o inorgânico olho azul
De água e pedra dura, atroz safira,
Azul de infinito céu, de céu já morto
De morte absoluta, azul e linda.

Nestes olhos se vê morte, a loucura
De Ismália amanhecida entre suas luas
No vôo azul do mar, profundo mito.

Ironia serena do tom vivo!
Azul é a cor da morte, coisa humana,
Que teu olho de minfeliz reclama.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Urbanas

do promontório que é este prédio
– a funda falésia de ferro –
– o golpe fatal contra o céu –
vejo homens e as sombras dos homens
e as insuspeitas sombras de homens
que fluem em feitas formas e refluem
em fatos feitos e afluem à sempiterna
palavra passageira

alta montanha
de ferro e concreto
guindaste e dinheiro
escada e trabalho,
de teu cimo disponho
a interrompida planície.
somo e calculo
todos os zeros que te compõem;
que rico e profícuo
o colorido do vácuo
de tanto valor!
e como escapa à trupe urbana
essa delicada trama
de tirania que enfeita
as ruas com placas
sinaleiros e bons dias?

são quatro mil anos que me contemplam
desde o mesmo olho da raça humana:
dos homens que vejo
registrarão os copistas
o lombo doído de Valdir
a nova correia de Gilmar?

ah, tudo que digo!
homens sem tragédia
sem canto a exigir
na letra sempiterna
do distraído existir;
lhes faz a história
copioso arquivo:
e legam à memória
o censo, o consenso e o olvido.

ah, tudo que digo!
essa filosofia superior
que me leva num carro de bois
às veredas do sol!
ah, mas minha verdade ficou
nas sílabas que corto
para caber na conta;
e minha lucidez está lá
na rima interna dum sorriso no outdoor

bem sei que sou Alheio
a tudo que daqui vejo;
cai a chuva e a enchente é espelho
sou homem e sou outro de mim.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Agradeço a Andrea Mondragon pela revisão do texto.

.

Esta era la hora en que yo desnudaría tu hombro, y de allí hasta el final, no sin antes cubrir con un paciente beso tu clavícula. Pero hay una sencilla sensualidad en tus palabras, hay el tu saberte bella – esencialmente ese hecho de quete conoces bella y que mi cuerpo confirmaría tu certeza… Eso todo me da ganas de leer poesía, de verte dibujada en la retórica versificada de la mímesis imposible, y entonces de hacerte saber que en todo eso fáltate algo, y ese algo es el justo espejo que jamás vendrá, y que jamás habrá semejante justicia, y de hacernos saber también que mis besos no te cubrirán sino en un despreciable espacio de tiempo, que es injustamente ínfimo en presencia de tu concreta realidad. ¿De qué vale tenerte sino para siempre? ¿Y cómo tenerte para siempre si el tiempo te consumirá, como lo ha hecho conmigo? ¿Sólo en un verso?, ¿un verso malogrado que contendrá más silencio que fidelidad, y ni ese silencio sabrá ser en él leído? El verso, ese pedazo de la nada, será sólo un vestigio que insinúa sin denunciar la falta de palabras que eres tú; tú, un símbolo vivo de la afasia que no se apacigua ni cuando te alejas.

sábado, setembro 05, 2009

À Caneta

Assim queria:
‘ideias tantas
e pouca tinta’.
Mas tudo escreve
e nada pinta.

sexta-feira, setembro 04, 2009

Ideia de poeta

Quando a Musa estridente
invadiu o aposento
estava histérica.

Numa mão a vanguarda de ordem
noutra, o metro de guerra.

O poeta
deu o seu grito redondilho,
a palavra manifesta –
entre uma e outro
epicatártico e liricômico
escolheu a janela.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Poemas rápidos

ΠΕΡΙ ΥΨΟΥΣ

eu elucido
o que Longino exprime:
no teu vestido
se desenha o Sublime.

O beijo

insinuas
com meias palavras
o que falo

faço tuas
as minhas palavras
e me calo

Hairoikai bíblico

não tem choro nem vela
tá provado que o cérebro dos homens
ficou preso à costela

Haikai light

se não me redime
o espelho, segunda o boto
num puta regime