terça-feira, novembro 23, 2010

Le tombeau d'Edgar Poe, de Mallarmé (primeira versão)

Tel qu'en lui-même enfin l'éternité le change
Le poëte suscite avec un hymne nu
Son siècle épouvanté de n'avoir pas connu
Que la mort s'exaltait dans cette voix étrange.

Mais, comme un vil tressaut d'hydre, oyant jadis l'ange
Donner un sens trop pur aux mots de la tribu,
Tous pensèrent entre eux le sortilège bu
Chez le flot sans honneur de quelque noir mélange.

Du sol et de l'éther hostiles, ô grief!
Si mon idée avec ne sculpte un bas-relief
Dont la tombe de Poe éblouissante s'orne,

Sombre bloc à jamais chu d'un désastre obscur,
Que ce granit du moins montre à jamais sa borne
Aux vieux vols de blasphème épars dans le futur.

[Tanto quanto em si mesmo a eternidade enfim o muda/O poeta suscita com um hino nu/Seu século aterrorizado por não ter sabido/Que a morte se exaltava nessa voz estranha.//Mas, como um tremor de hidra, ouvindo certa vez o anjo/Dar um sentido bastante puro às palavras da tribo,/Todos pensaram entre si em algum feitiço bebido/no fluido desonrado de alguma mistura negra.//Do solo e do éter hostis, ó penas!/Se minha ideia não esculpe um baixo-relevo/Com o qual se orne a tumba ofuscante de Poe,//Bloco sombrio para sempre caído de um desastre obscuro,/Que este granito ao menos mostre para sempre seu marco/Aos velhos vôos de blasfêmia espalhados no futuro] 

segunda-feira, novembro 22, 2010

Sonhadas

Sonhei: um livro me escrevia
caudaloso me citava
escandaloso me deixava
em branco no pé da página.

Sonhei: admito que sonhava
completamente referido
sonhei que virava livro
de verdades deslavadas.

domingo, novembro 14, 2010

Platão, Epigrama VII

Μλον γώ, βάλλει με φιλν σέ τις· λλ' πίνευσον,
 Ξανθίππη· κἀγὼ καὶ σὺ μαραινόμεθα.


Sou uma maçã, e lanço-me ao teu beijo. Diz sim, 
Xantipa: também tu e eu perecemos.

sábado, novembro 13, 2010

Arquíloco, Fragmento 19

οὔ μοι τὰ Γύγεω τοῦ πολυχρύσου μέλει,
οὐδ' εἷλέ πώ με ζῆλος, οὐδ' ἀγαίομαι
θεῶν ἔργα, μεγάλης δ' οὐκ ἐρέω τυραννίδος·
ἀπόπροθεν γάρ ἐστιν ὀφθαλμῶν ἐμῶν.
pouco se me dá o ouro
de Giges Cheiodouro
não envergo por aí o olho gordo
não invejo os feitos dos Altíssimos
nem me boquiabre o V. Excelência
de um homem poderoso:
tão longe estão do horizonte de meus olhos

quinta-feira, novembro 11, 2010

Epigrama

Caminhante: esse ar plebeu
cede à decisão de teu passo
lâmina e habita os confins
de tua iniciativa. Ouve,

porém, minha lápide guia:
por aí, na cortina que
recua à tua tirania,
te contempla, manso mas vivo,

o teu último suspiro.

domingo, novembro 07, 2010

meu tempo

cidade
vão dos edifícios

sobem ingentes as risadas
de homens ingentes

tempo

uma criança
joga damas
com peças
intragáveis