segunda-feira, setembro 14, 2009

Urbanas

do promontório que é este prédio
– a funda falésia de ferro –
– o golpe fatal contra o céu –
vejo homens e as sombras dos homens
e as insuspeitas sombras de homens
que fluem em feitas formas e refluem
em fatos feitos e afluem à sempiterna
palavra passageira

alta montanha
de ferro e concreto
guindaste e dinheiro
escada e trabalho,
de teu cimo disponho
a interrompida planície.
somo e calculo
todos os zeros que te compõem;
que rico e profícuo
o colorido do vácuo
de tanto valor!
e como escapa à trupe urbana
essa delicada trama
de tirania que enfeita
as ruas com placas
sinaleiros e bons dias?

são quatro mil anos que me contemplam
desde o mesmo olho da raça humana:
dos homens que vejo
registrarão os copistas
o lombo doído de Valdir
a nova correia de Gilmar?

ah, tudo que digo!
homens sem tragédia
sem canto a exigir
na letra sempiterna
do distraído existir;
lhes faz a história
copioso arquivo:
e legam à memória
o censo, o consenso e o olvido.

ah, tudo que digo!
essa filosofia superior
que me leva num carro de bois
às veredas do sol!
ah, mas minha verdade ficou
nas sílabas que corto
para caber na conta;
e minha lucidez está lá
na rima interna dum sorriso no outdoor

bem sei que sou Alheio
a tudo que daqui vejo;
cai a chuva e a enchente é espelho
sou homem e sou outro de mim.

Um comentário:

Chrysantho Sholl Figueiredo disse...

Mais uma EXCELENTE!