Insisti no fato, insistiram em resistir-lhe. Mas a fé me era tanta que começaram a desconfiar que talvez houvesse razão. Principiou como mera irritação, mas de repente tornou-se uma obsessão pública descobrir se eu tinha um nome ou não. Por falta de provas da realidade, acabaram aceitando-o. A direita viu nisso um exemplo banal de liberdade, ok, bacana, ele tem um nome, cada um pode ter se quiser, etc.; e tentou cotidianizá-lo como uma decorrência natural de nosso mundo. A esquerda viu uma traição contra as massas, um atentado contra a igualdade de existência, com palavras de ordem perorando minha expulsão sei lá do quê. Os inteligentes desconversaram: não importava se eu tinha um nome ou não, o importante era saber o que eu queria dizer quando dizia que tinha um nome.
Mas os cientistas ficaram excessivamente intrigados. Numa noite prenderam-me. Em nome da ciência, mataram-me. Encontraram o decassílabo de que eu falei e dissecaram-no. Sim, eu tinha um nome, e ele era decassilábico. Encontraram aqui e ali umas três ou quatro sílabas tônicas, nenhum sinal de cesura ou enjambement. Concluíram que com ele nenhum esquema rítmico seria razoável e se alguém encontrasse uma rima possível certamente seria monstruosa. Claro, falei que era decassilábico, não falei que era poético.
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