domingo, maio 31, 2009

Poema erótico

deitada foste
uma verde relva de infindo campo
em que meus dedos caminharam
- o infinito foi desejo, não foi espaço,
e cada passo foi ao braço
um cerco tato de senhor
que avança sobre domínios
de mãos e ombros e um dorso
apenas sugerido no prelúdico jogo.
ah, mas que batalha vencer
pouco a pouco todo o teu império,
e que batalha estranha se nos despojos
não blasona o senhor, mas palpita pávido
ante austeros negros olhos
enformados em ferinas pálpebras
que se espremem por teu leve
levantar da boca e teu insinuar
das carnes do rosto e o teu gemido
e o teu suspiro e tua violência
de dentes cravados nos meus beiços
como guerreiro no último estertor.
e invertemos
consabidos e falhos
conselhos castos da dominação:
o dominus é dominado,
da pele escravo, da pele tua,
que reveste seios e ventre e o regaço
e toda doce alma que a fingido custo se entregou
açoitando amor teu servo amante.
e porque pediste e porque eu quis
busquei o beijo em tua nuca e em teu cabelo
e pelas costas desci, as mãos nos seios,
e pela busca só buscava a boca
teus terrenos, evitando encontros,
até que em fatal ataque
buscou entre tuas pernas o gosto
percorrido em cada espaço
por diligente língua que nada
à negligência lega
(desde os joelhos tudo abarcado,
a coxa inteira, e o sexo de tantos lábios,
e um por um o seu aparado pêlo).
tão vivaz, mais que memória,
ficou como gosto absoluto e só
a que, subjugado, essa soberba língua
submissa
tem por vitória.

3 comentários:

Chrysantho Sholl Figueiredo disse...

Quem é "vitória"?

Ana Carolina disse...

melhor que ler henry miller

Fernando Marcellino disse...

Caro felipe dos dedos caminhantes, se ouvisse o erótico entre o ventre e as coxas não poderia deixar de ressaltar: como não vivenciar os versos que cortam a pornotizaçâo cotidiana da vida?