Juó Bananére é o pseudônimo de Alexandre Marcondes Machado, poeta da época premodernista que conviveu com os imigrantes italianos que vieram morar em São Paulo, nos bairros do Bom Retiro, do Brás e do Bexiga.
Escreveu poemas no dialeto dos imigrantes, parodiando grandes autores da época - como Olavo Bilac e Machado de Assis - além do futurismo de Marinetti e até Edgar Allan Poe. Seu único livro chama-se La Divina Increnca, em referência a Dante.
Me apresentou o Juó o Chrysantho, ao que parece de notícias havidas de João Rosa. O poeta é uma pérola, a quem até o Otto Maria Carpeaux dedicou um estudo. O Juó foi, em 1912, a escolha de Annibale Scipione (nada menos que Oswald de Andrade, que mais tarde demitiu Juó porque Andrade era amigo de Olavo Bilac (!), que Bananére parodiava) para substituí-lo no hebdomadário O Pirralho. Scipione também escrevera no dialeto macarrônico, porém Juó inovou mesmo, em relação ao antecessor, nas suas paródias poéticas, com versos com bom ritmo e rimados, sem, no entanto, o endeusamento dos versos nobres e da linguagem esotérica de que se utilizavam os parnasianos. Aliás, é justamente na questão da linguagem que se centra toda a poética bananeriana: o macarrônico impõe a comicidade, não há efeito sério que se possa, na primeira aproximação ao poema, extrair dos seus textos. O melhor exemplo é a paródia d'O Corvo, de Allan Poe. O poema do americano tem toda uma estrutura montada para o efeito sombrio que percorre o poema, além do tema sorumbático que emerge da morte e da imagem negra do corvo. Em Bananére, tudo se resolve no corriqueiro, e ao efeito cômico do macarrônico soma-se a alusão a Poe, que quebra as expectativas taciturnas quando o poeta recebe o gorvo expansivamente, tendo nele reconhecido seu amigo Raule. O nevermore de Poe é o da irreversibilidade da morte; o nunga maise de Bananère é o da vergonha, raiva ou decepção do gorvo!
Segue o poema que parodia Allan Poe:
O Gorvo
P'ru Raule
A NOTTE stava sombria,
I tenia a ventania,
Chi assuprava nu terrêro
Come o folli du ferrêro.
Io estava c'un brutto medó
Lá dentro du migno saló,
Quano a gianella si abri
I non s'imagine o ch'io vi!
Un brutto gorvo chi entrô,
I mesimo na gabeza mi assentô!
I disposa di pensá un pochigno,
Mi dissi di vagarigno:
_ Come vá sô giurnaliste?
Vucê apparece chi stá triste?
_ Nos signore, sô dottore...
Io stô c'un medo do signore
_ Non tegna medo, Bananére,
Che io non sô disordiére!
_ Poise intó desça di lá
I vamos acunversá.
Ma assí che illo descê
I p'ra gara delli io ogliê
O Raule ariconecí,
I disse p'ra elli assí:
- Boa noute Raule, come vá!
Intó vuce come stá?
Vendosi adiscobrido o rapaise,
Abatê as aza, avuô, i disse: nunga maise!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
esse foi a sensacao da noite de ontem!
Curti!!! Homenagem pertinente ao precursor do nosso, não menos saudoso, Adoniran Barbosa!
Afinal "Ti ricordi, Gioconda, de quela cena in Guarugiá?" soa muito bananeriano!
Maníaco. =)
Postar um comentário