sábado, outubro 25, 2008

Perdas

marca um x vermelho o calendário
e as palavras outrora ditas não são
as que no fim a memória marcam

se justifica agora teu ódio destilado
nas ficções a que não ouso
opor, inútil, meu inútil palavreado

se perde em ti o que em mim fica,
e compreendo tuas injúrias,
que o amor ao ódio justifica

assim vou, de perdendo tanto
me perco em erros, e nos meus
te perdes, e sou perdas, e és canto

o lutuoso canto das minhas perdas,
da voz de embargo que lamenta tímida
o pra sempre ir-se do teu ventre-seda

do ir-se então o lindo seio que escondias
à meia-luz do perdido quarto
a jogar-me perdido em perdidas vias

assim eu ia, de a boca perdendo,
a que ostentavas, a perder os fios
do cabelo que a ela ia escondendo

e no fim a ti perdi, e enfim a mim inteiro,
em tudo perdido, mas certo que dos erros
tu foste o meu único e absoluto acerto

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