sou história
contada por outro
e o meu desfecho é ruim
e o mau exemplo é moral
que ensina que
ensina que ensina
que ensina que
ensina o quê?
para ninguém aprender
sou, além de história, inútil
o outro que de mim conta
nem aprende nem aprendem
o que ensinando não ensino
mas mespalha, a minfame
pelo conto, a minfiltrado
nem sou o
que sou sou
monstro se
sou é ficção
...................mas, oras, história sou!
o que sou
é mentira
que sou
a mentira
que sou
se é mentira
que sou sou
o que não
sou aquilo que fica
que fique, é melhor
sou ainda pior
terça-feira, outubro 28, 2008
domingo, outubro 26, 2008
sábado, outubro 25, 2008
Perdas
marca um x vermelho o calendário
e as palavras outrora ditas não são
as que no fim a memória marcam
se justifica agora teu ódio destilado
nas ficções a que não ouso
opor, inútil, meu inútil palavreado
se perde em ti o que em mim fica,
e compreendo tuas injúrias,
que o amor ao ódio justifica
assim vou, de perdendo tanto
me perco em erros, e nos meus
te perdes, e sou perdas, e és canto
o lutuoso canto das minhas perdas,
da voz de embargo que lamenta tímida
o pra sempre ir-se do teu ventre-seda
do ir-se então o lindo seio que escondias
à meia-luz do perdido quarto
a jogar-me perdido em perdidas vias
assim eu ia, de a boca perdendo,
a que ostentavas, a perder os fios
do cabelo que a ela ia escondendo
e no fim a ti perdi, e enfim a mim inteiro,
em tudo perdido, mas certo que dos erros
tu foste o meu único e absoluto acerto
e as palavras outrora ditas não são
as que no fim a memória marcam
se justifica agora teu ódio destilado
nas ficções a que não ouso
opor, inútil, meu inútil palavreado
se perde em ti o que em mim fica,
e compreendo tuas injúrias,
que o amor ao ódio justifica
assim vou, de perdendo tanto
me perco em erros, e nos meus
te perdes, e sou perdas, e és canto
o lutuoso canto das minhas perdas,
da voz de embargo que lamenta tímida
o pra sempre ir-se do teu ventre-seda
do ir-se então o lindo seio que escondias
à meia-luz do perdido quarto
a jogar-me perdido em perdidas vias
assim eu ia, de a boca perdendo,
a que ostentavas, a perder os fios
do cabelo que a ela ia escondendo
e no fim a ti perdi, e enfim a mim inteiro,
em tudo perdido, mas certo que dos erros
tu foste o meu único e absoluto acerto
sexta-feira, outubro 17, 2008
quinta-feira, outubro 16, 2008
Mercado Financeiro
Cantavam as Musas mitos
que hoje tento lembrar.
Depois me censuro:
já há muito se passou
o terceiro dia após o dia
da morte dos mitos.
Hoje há mitos que o aedo
não cantará. O farão
as prosas secas dos jornais.
Pois onde
a queda dos deuses esteve
a quebra dos bancos está;
na ordem do dia,
no Olimpo do Caos.
Fosse a fome...
Mas fome não é mito.
que hoje tento lembrar.
Depois me censuro:
já há muito se passou
o terceiro dia após o dia
da morte dos mitos.
Hoje há mitos que o aedo
não cantará. O farão
as prosas secas dos jornais.
Pois onde
a queda dos deuses esteve
a quebra dos bancos está;
na ordem do dia,
no Olimpo do Caos.
Fosse a fome...
Mas fome não é mito.
segunda-feira, outubro 13, 2008
Blow Up
A Michelangelo Antonioni
a morte é uma mancha
na memória
.
que desvendo?
que descubro?
.
que construo.
Elegia
Sou um dos liberados males por Pandora;
Figura-me porém do infortuno o sentido
Igual ao derradeiro que correu afora:
Dos tristes a esperança há tempos tenho sido.
Sou dois, sendo já um, inda outros males tenho,
E serei também guerra, o medo dos povos,
O pranto que ao consolo presta e pronta venho,
Sem que ao meu próprio choro acorram males novos.
Sou vida mais vivida, e me odeia a vida;
Amigos todos faltam; se duvidas, vide-o:
Semi-vivo procura-me, o suicida;
Pelo afeto, obrigada, dou-lhe o suicídio.
Sou com isso mui só, que amigos hei de ter?
Se os quais a mim tocar desejam, e os que não,
Hão de sempre, infelizes, no toque morrer,
De modo a não restar-me senão solidão?
Sou desafortunada, vês que o sou deveras:
A todo mal que falem eu serei pertinente,
Como coisa maldita, reles coisas meras.
Mas poucos saberão: sou também - direi! - gente.
Sou, com efeito, parte da humanidade.
Como se não corresse ali tudo corre
No meio natural: cair um dia há-de
U’a planta, natureza porém nunca morre.
Sou, e sou realmente, dentre os homens uma:
Alguém contradirá: o homem não é uma planta?
Homem o nome tem, não a flor, não o puma,
E eu o tenho também, como tanto se canta:
Sou Tânatos, sou Moiras, sou Parcas, sou Cruz;
Nas palavras mais doces posso ser má sorte;
Mas meus nomes rejeito por tirar-me a luz,
Daqui p’ra frente nego tê-la, alcunha Morte.
Figura-me porém do infortuno o sentido
Igual ao derradeiro que correu afora:
Dos tristes a esperança há tempos tenho sido.
Sou dois, sendo já um, inda outros males tenho,
E serei também guerra, o medo dos povos,
O pranto que ao consolo presta e pronta venho,
Sem que ao meu próprio choro acorram males novos.
Sou vida mais vivida, e me odeia a vida;
Amigos todos faltam; se duvidas, vide-o:
Semi-vivo procura-me, o suicida;
Pelo afeto, obrigada, dou-lhe o suicídio.
Sou com isso mui só, que amigos hei de ter?
Se os quais a mim tocar desejam, e os que não,
Hão de sempre, infelizes, no toque morrer,
De modo a não restar-me senão solidão?
Sou desafortunada, vês que o sou deveras:
A todo mal que falem eu serei pertinente,
Como coisa maldita, reles coisas meras.
Mas poucos saberão: sou também - direi! - gente.
Sou, com efeito, parte da humanidade.
Como se não corresse ali tudo corre
No meio natural: cair um dia há-de
U’a planta, natureza porém nunca morre.
Sou, e sou realmente, dentre os homens uma:
Alguém contradirá: o homem não é uma planta?
Homem o nome tem, não a flor, não o puma,
E eu o tenho também, como tanto se canta:
Sou Tânatos, sou Moiras, sou Parcas, sou Cruz;
Nas palavras mais doces posso ser má sorte;
Mas meus nomes rejeito por tirar-me a luz,
Daqui p’ra frente nego tê-la, alcunha Morte.
quinta-feira, outubro 09, 2008
A Walt Whitman
Ó Whitman, meu Whitman,
onde acabará teu verso?
O papel acaba, o livro é pouco, o blog é isso que vês
Mas teu verso enorme vai se quebrando e a página se enchendo e o poema, que é o branco da folha, vira a letra densa, a letra preta, a letra que, no entanto, na tua pena vira pena, folhas de relva plainando em queda descompromissada e conformada, lentamente a tocar o nada e o sem-fim das cantilenas sempre iguais dos trabalhadores livres da tua democracia.
Ó Whitman, pastor da América!
onde acabará teu verso?
O papel acaba, o livro é pouco, o blog é isso que vês
Mas teu verso enorme vai se quebrando e a página se enchendo e o poema, que é o branco da folha, vira a letra densa, a letra preta, a letra que, no entanto, na tua pena vira pena, folhas de relva plainando em queda descompromissada e conformada, lentamente a tocar o nada e o sem-fim das cantilenas sempre iguais dos trabalhadores livres da tua democracia.
Ó Whitman, pastor da América!
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