Quando o Zé Magrela botou os pés no Bar do Lauro, este mal ergueu os olhos, jogou o pano de prato sobre o ombro e fingiu precisar ir à cozinha, para adiar algo de que não fugiria. Mas Zé o chamava, obrigando-o a ficar e virar-se. Ainda sem erguer a cabeça, Lauro perguntou-lhe o que queria, juntando dois ou três guardanapos de papel amassado sobre um prato cheio de farelos de pastel e pedacinhos de carne. Zé pediu uma cerveja e um pastel de carne, já ordenando, em ato contínuo, que colocasse na conta. Numa frase cheia de reticências, Lauro que enfim olhou aos olhos do Zé disse-lhe que este já lhe devia algum dinheiro, perto dos cinqüenta reais. O devedor abriu um largo sorriso para depois franzir o cenho abrir os braços e dobrar o pescoço na diagonal e anunciar como quem pede favor na camaradagem que já havia dito repetidas vezes que lhe retribuiria logo, pois dentro de alguns dias o Tavares ia lhe quitar a aposta que perdera no bilhar. O dono do bar ainda chegou a dizer, um tanto acanhado, que também Tavares lhe estava devendo. Mas Zé enraiveceu e disse que isso era assunto a ser tratado entre Lauro e Tavares, não com ele. Lauro já ia cedendo quando Martinho, sentado num dos bancos do balcão, retrucou dizendo a Zé que ele folgava-se demais com Lauro, que era alma boa demais para dizer não. Disse ainda para Lauro que só servisse à vista do dinheiro, ao que este, tomado de coragem, disse que era verdade, e cobrou de Zé. Zé, que era folgado mesmo, vitimizou-se alegando que sempre foi freguês do senhor Lauro, que ia sim lhe pagar. Martinho então lhe falou que ninguém pode se fiar na palavra por tanto tempo, e ainda disse que Zé já não tinha crédito em nenhum outro bar do bairro, que era para se conscientizar disso. Zé se acanhou foi embora.
Quando o Zé Magrela botou os pés no Bar do Lauro, este mal ergueu os olhos, jogou o pano de prato sobre o ombro e fingiu precisar ir à cozinha, para adiar algo de que não fugiria. Mas Zé já gritava “ô, seu Lauro!”, obrigando-o a ficar e virar-se. Ainda sem erguer a cabeça, Lauro perguntou-lhe o que queria, juntando dois ou três guardanapos de papel amassado sobre um prato cheio de farelos de pastel e pedacinhos de carne. Zé pediu a loira e o pastel de carne, “nada de vento, hein?”, e ainda disse que era para fazer tudo “naquele nosso esqueminha!”. Lauro, com uns “mas..., mas..., você sabe...”, olhando nos olhos do Zé avisou-lhe que sua dívida já chegava aos cinqüenta reais. O devedor abriu um largo sorriso para depois franzir o cenho, abrir os braços e dobrar o pescoço na diagonal e anunciar como quem pede favor na camaradagem que já havia dito “quantas vezes, hein?” que lhe pagaria logo, “de fé”, pois dentro de alguns dias o Tavares ia lhe quitar “o bagulho da sinuca que eu te falei”. “Ah, o Tavares...”, disse o dono do bar, explicando que este também lhe devia. Mas Zé enraiveceu e disse que isso era assunto deles, que “eu não tenho nada com essa joça”. Lauro já ia cedendo quando Martinho, sentado num dos bancos do balcão, retrucou dizendo que ele era um “desgraçado dum folgado” e que Lauro era alma boa demais para dizer não. Disse ainda para Lauro que só servisse quando Zé “botasse a mão no bolso”, ao que este, tomado de coragem, disse que era verdade, e cobrou de Zé. Zé, que era folgado mesmo, disse “que é isso, seu Lauro?”, e que sempre foi freguês do bar e que ia sim lhe pagar. Martinho então falou que ninguém pode “dar fé só no dizer” por tanto tempo, e ainda disse que Zé não tinha “moral” em nenhum outro bar do bairro, quer era “pra tomar tento logo”. Zé se acanhou e foi embora.
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