Um poema de Helder Macedo
Desoladora, vã certeza minha
efémera presença que termina
o rosto e a vida em imperfeita linha
fronteira absurda que me não confina.
Pela luta de corpo em que me iludo
um perene sentido eu anuncio.
Mas na manta carnal onde me escudo
tacteio as dobras dum só frustre cio.
Aos mil olhos febris do céu velado
ergo o meu gesto de razão e regra.
Cresce a fria canção, espanto fechado
na mágoa em riste que me o sangue empedra.
O súbito destino se organiza
da voz que sou e, do finito vulto,
secreta, anula, transfigura e frisa
o nada ser do meu anseio oculto.
Aglutinado sou. Lá fora a noite.
Mas nada vai nascer ou vai morrer
em rumos para além, onde me afoite,
da pausa tensa a que me obriga ser.
E só na raiva lisa de existir
eu me prolongue, necessário modo,
despedido de mim, a descobrir
o caminho de mim para o meu todo.
Destino pleno que me a vida exuma
ante o mundo o intente no desforço
do vinculado ser para que assuma,
conscrito ao humano todo, dele escorço,
a minha impessoal identidade.
Serei a minha ausência e o seu indulto
reinventando a minha liberdade
como um sarcasmo, um passatempo e um culto.
Que a boa admiração que tenho por esse texto não seja tão-somente inveja!
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Um comentário:
recado lido. presença não confirmada, mas HAVE FUN...hehehe
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