sábado, maio 20, 2006

Ínfimo conto sobre a queda da bola de borracha vermelha

Inércia, pura inércia, e de repente zás! A força motriz: a bola rola rola e rola. O plano não-inclinado da mesa e o equador da esfera num íntimo contato de coeficientes de atrito da borracha e da fórmica, o pansexualismo dos objetos. Irresistível e abrasivamente, como a carne afoita pela outra carne, os pólos vão se alternando, a fórmica sustenta o rolo infinito em sua condição finita de mesa... Então o gozo. A bola chega ao limiar do plano, ninguém mais a apóia! A gravidade, enfim. O chão, a colisão imperfeitamente elástica. Desesperadamente, apaixonadamente, inutilmente, a bola arrebatada volta aos ares tentando amar de novo a mesa, e não a alcança. Resta-lhe o chão somente. Onde pára e espera e volta à inércia. Pura inércia.

3 comentários:

Anônimo disse...

pura inércia. a inércia de amar objetos. gavetas. sou pansexual.

Anônimo disse...

Muito bom cara! Poético e reflexivo. Vai fundo.

G. Ulisse disse...

fantástico