terça-feira, março 09, 2010

Desencanto


Croyez-moi, quand la terre entrouvre ses abîmes
Ma plainte est innocente et mes cris légitimes
Voltaire

Bicho Falante, teu trono de marfim
governa o Reino Desencantado.
Já não há a dimensão da fatalidade,
maldição escancarada à sentença
que no tanto sentir já tudo sabe.

É preciso investigar
quem premeditou a vida;
é preciso punir
quem tramou o desastre;
é preciso prender
a ciência por trás do infortúnio;
é preciso flagrar
o controle deliberado de Zeus
na balança que desatina
o sopro vazado de Heitor;

é preciso, enfim, é preciso,
ó Bicho do sem-mistério,
é preciso culpar
o dado que calculara o golpe
de sorte que aboliu o acaso
no limiar do teu ainda não.

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