De Charles Dickens, tradução minha
À medida que Oliver dava essa primeira prova de ação livre e adequada de seus pulmões , a colcha de retalhos que estava descuidadamente jogada sobre o estrado de ferro da cama ia farfalhando; então a face pálida de uma jovem ergueu-se do travesseiro preguiçosamente , e uma voz fraca articulou de modo imperfeito as palavras ‘Me deixe ver a criança . E morrer ’.
O médico estava sentado com o rosto voltado ao fogo , dando à palma de suas mãos alternativamente o calor do fogo e uma esfregada. Quando a jovem falou, ele se levantou, e indo até a cabeceira da cama disse, mais gentilmente do que se poderia esperar :
“Ah, você não fale em morte ainda ”.
“Que Deus guarde ela ! Não fale não !” interpôs a enfermeira , depositando prestamente no seu bolso uma garrafa de vidro verde , cujo conteúdo ela esteve saboreando com evidente satisfação a um canto . “Que Deus guarde ela ! Quando ela ter vivido tanto quanto eu , senhor , e tido seus próprios treze filhos , e todos eles morrido, tirando dois aqui no asilo comigo , ela vai saber melhor do agora que fala assim . Que Deus guarde ela ! Pense o que é ser mãe , aqui tá o menininho, pense.”
O cirurgião o depositou em suas mãos . Ela pressionou os lábios brancos e frios contra sua testa ; passou as mãos no rosto ; perscrutou agrestemente o lugar ; arrepiou-se; caiu para trás ... E morreu. Esfregaram seu peito , mãos e têmpora para aquecê-los, mas o sangue parou para sempre . Falaram de esperança e descanso . Eram desconhecidos por tempo demais .
“Acabou, Senhora Qualquercoisa[1]” – disse enfim o cirurgião .
“Ah, coitada , então é isso ” – disse a enfermeira , recolhendo a rolha da garrafa verde que havia caído no travesseiro quando se inclinou para pegar a criança . “Coitada !”
“Não precisa me chamar se o menino chorar , enfermeira ” – disse o cirurgião , calçando as luvas decididamente . “Provavelmente ele vai ser incômodo . Dê pra ele um pouco de mingau nesse caso .” Colocou o chapéu e, detendo-se ao lado da cama ao sair , acrescentou, “ela era bonita também ; de onde ela veio ?”
“Foi trazida aqui ontem à noite ” - respondeu a velha - “por ordem do inspetor. Foi achada chorando na rua . Caminhou um bocado , pois os sapatos tavam aos pedaços ; mas de onde veio ou para onde ia, quem sabe?”
O cirurgião se inclinou sobre seu corpo e ergueu sua mão esquerda . “A velha ladainha – disse balançando a cabeça – sem aliança , veja. Bem , boa noite !”
O médico foi embora para o jantar ; e a enfermeira , tendo mais uma vez se dedicado à garrafa verde , sentou numa cadeira baixa perto do fogo , e passou a vestir o infante .
Oliver chorava com força . Se ele então pudesse saber que era um órfão , abandonado aos favores de sacristões e de inspetores, talvez chorasse ainda mais forte .
[1] Mts. Thingummy, literalmente “Coisapegajosa”, utilizado pejorativamente para um qualquer , cujo nome não se sabe.
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