domingo, março 04, 2012

Toujours

Por Guillaume Apollinaire


A Madame Faure-Favier.

..........................................Toujours
Nous irons plus loin sans avancer jamais

Et de planète en planète
De nébuleuse en nébuleuse
Le don Juan des mille et trois comètes
Mêmes sans bouger de la terre
Cherche les forces neuves
Et prend au sérieux les fantômes

Et tant d'univers s'oublient
Quels sont les grands oublieurs
Qui donc saura nous faire oublier telle ou telle partie
.......du monde
Où est le Christophe Colomb à qui l'on devra l'oubli
.......d'un continent

................................Perdre
Mais perdre vraiment
Pour laisser place à la trouvaille
.................................Perdre
La vie pour trouver la Victoire

[SEMPRE
À senhora Fauve-Favier*

Sempre/Iremos mais longe sem avançar jamais // E de planeta em planeta/De nebulosa em nebulosa/O don Juan dos mil e três cometas/Mesmo sem mover a terra/Busca as forças novas/E leva a sério os fantasmas // E tantos universos se esquecem/Quais são os grandes esquecedores/Quem então saberá nos fazer esquecer esta ou aquela parte/do mundo/Onde está o Cristóvão Colombo a quem se deverá o esquecimento/de um continente // Perder/Mas perder de verdade/Para dar lugar ao achado/Perder/A vida para encontrar a Vitória].

*O nome da destinatária da dedicatória do poema me é muito sugestivo. Significa algo como Fera-Produtora de Favas, segundo a origem do nome Favier. Em uma leitura muito particular, o poema canta um progresso imóvel, que avança sobre tudo, que tudo descobre e tudo anexa, para deixar no lugar de tudo a ruína, o esquecimento, a perda. Dedicando-se a uma fera, o sempre do poema hipostasia a voracidade e a sedução caçadora que a ela se ligam, e faz nascer de sua violência um campo de favas. Estas, apesar do regime vegetariano dos antigos pitagóricos, eram proibidas, pois nasciam da podridão, da decomposição das carnes, das suas ruínas - comer fava, por isso, era também um ato de sarcofagia, quando não de antropofagia. A fera que a tudo arrasa nos lega a produtividade da ruína, da podridão, a fava. Nossa madame Fauve-Favier se torna assim todo um significante em que se delineia o paradoxo do progresso, tal como visto por Benjamin: o anjo que não pode resistir à violência do vento que o empurra ao futuro, mas contempla horrorizado o passado como uma montanha de ruínas e de perdas. A Vitória de seu progresso é uma fava.**


**Percebi depois de todo arrazoado acima que minha leitura derivou de um erro. Troquei uma letra na tradução: de Faure, para Fauve. Mas não a apago, porque leituras também se fazem dos erros. Mas continuo: o nome corrigido, Faure, é uma corruptela de Faber, fabricante. E eis que no equívoco a leitura se enriquece: fabricante-fera-fava. Homo faber: o que constrói o mundo, a partir da violência contra a matéria, a violência contra o substrato das coisas que nos rodeiam. Continuamos no mesmo universo, o da criação ávida que viola o mundo sem preguiça.

Um comentário:

Maurício disse...

Haja pretensão.