terça-feira, março 06, 2012

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[uma folha branca levanta a suspeita]


Os teus rostos, amores de meus dias, cofres de minhas noites tão antigas quanto o amor que se fazia por ignorância por maldade ou por infância, antes mesmo dos tomos que nos dão a ver quem somos quando amamos ou como valemos toda a pena que somos quando amamos ou como não merecemos pena alguma se choramos, estes teus rostos sexta e sábado, estes teus rostos hálitos madeira dos meios-dias que me abreviam manhã por manhã, estes rostos teus, de meus amores, meus amores, são também folhas brancas

[uma folha branca devora-o pelas margens]


E margeiam, amores de meus dias, tuas mãos, senhas de minhas noites maldormidas, e margeiam tuas mãos o rio caudaloso do meu desejo o caudaloso rio do meu desejo, como a poeta tateia um alfabeto, se emenda a cântaros, se mete em tártaros, se toca pelos pequenos tânatos e se afasta com um pequeno gesto e contempla comigo tuas pequenas mãos vazias das letras dos mundos da marginalia dum fragmento ainda não inscrito

[uma folha branca o escreve sem resíduos]


E tuas pernas, amores de meus dias, sentinelas de minhas noites mais vividas, escrevem a lei do lençol que se desalinha, a linha do anzol que me abocanha, e depois me vomita, a fenda de tuas febres que me abriga, e depois me abandona, a lei de todos as coisas que em pleno vôo são queda livre, tuas pernas, pernas de meus amores, me tomam me tramam me tramoiam me traem me trazem de novo ao ponto branco do fundo branco da mesma folha branca de uma vida

Um comentário:

Aline disse...

Que bonito, poeta.