- Isso são horas?! - ele disse quando entraram os quatro gorilas na Confederação Geral do Trabalho.
- Boa noite, seu nome?
Ele disse o nome que a história esqueceu.
- Que prazer conhecê-lo. Me chamo coronel Körich (ou König, Klein, Kössler? Era de um nome alemão que ele lembrava).
- Coronel K..., isso são horas?
- Senhor ..., seja gentil. Veja, não crie problemas, que isso tudo não lhe diz respeito. Eu acho sim que são horas, para responder. Olha. Por quê? O senhor sabia que as horas vêm do grego? É como dizer: o momento certo, a estação propícia, olha só, agora. E estes meus colegas todos acham que agora é o momento certo.
- Pois os seus gregos deviam saber, coronel, que madrugada nunca é hora.
- Aliás, Senhor ..., desconfio que hora também tinha algo a ver com sacrifício. (Pausa dramática). Não tenho certeza, veja bem, mas eu posso verificar, hã?
Em se tratando de um gorila, em se tratando de madrugadas, toda palavra era feita de tiro ou lâmina; era faca ou era flâmula. Ele sabia entender ameaças. Mas não era por um ímpeto da resistência a que lhe obrigava o ofício ou por uma adesão ideológica nesses tempos nebulosos que ele tratava o coronel com um rigor que talvez não recomendasse o momento. Era, sim, por instinto de sobrevivência. As madrugadas devoram os fracos e derrotados de véspera; os fortes têm sua reserva de respeito. Não era, entretanto, o caso de deter os gorilas: não era dele o poder ali; ele queria apenas assegurar-lhes que apesar disso não seria um brinquedo.
- Muito bem, senhor ..., somos amigos agora. Veja bem. Eu sei que o seu povo...
- Meu povo é o argentino, coronel.
- Então. - o coronel assumia uma expressão mais didática - O nosso povo... Não. Assim, vamos deixar as coisas claras: que essas pessoas com menos instrução... Mais deslumbradas..., não é?, com essa política imediatista, elas gostavam muito dela. Não, não, não me leve a mal... Não é por mal, na verdade. Nem é contrário aos senho..., a essa gente toda. Eu preciso tirá-la daqui, sabe?, porque tem gente entre nós, do governo, do novo governo, que vão acabar conseguindo dissolvê-la em, nessas coisas (girava a mão)... Em ácido, né... ou incendiando, não sei.
- Sei. (Fingiu que. Concordava.) Ela está no segundo andar, eu os levo.
- Ah, sim, claro, claro. Muito obrigado. Então vamos, senhor ...?
Pela última vez, falou-se ali o nome que a história esqueceu.
sábado, fevereiro 05, 2011
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