MST
"Ou a Folha seleciona mal as cartas dos leitores de Curitiba ou esta cidade possui efetivamente a elite mais preconceituosa do Brasil.
Deve ser natural para a capital de um Estado que formou sua realidade fundiária a partir da grilagem maciça, patrocinada pelo governo no século passado, o que deu causa, na década de 50, à heroica Revolta dos Posseiros, esse capítulo arrancado da nossa história que o leitor Ruy Pigatto ("Painel do Leitor", ontem) classificaria por certo como arruaça criminosa.
Ele tem razão: aqui neste país não há justiça. Pena. Houvesse, a Cutrale, a grilagem e a concentração fundiária é que seriam triunfalmente expulsos da nossa história."
FELIPE AUGUSTO VICARI DE CARLI - Curitiba/PR
A carta acima foi motivada pela publicação, no dia 28/01/2010, dessa aqui:
MST
"Após o mundo inteiro ter visto, ao vivo, com som e imagem em cores, a brutal agressão e a destruição do laranjal da Cutrale, os caras de pau do MST têm a coragem de falar que "a polícia visa forjar acusações". Pena sermos um país sem justiça, que não impõe a lei a meliantes e arruaceiros como esses, travestidos de "agricultores sem terra", que já nos cansam com suas invasões e destruições de patrimônios alheios. E não venham agora com a história de "criminalizar" o que já é por si só criminoso."
RUY PIGATTO, engenheiro agrônomo (Curitiba, PR)
sexta-feira, janeiro 29, 2010
quarta-feira, janeiro 20, 2010
Divinas
o Verbo
ei-nos:
matéria
e ora de um poema que não conhece
nem vento nem mulher nem chuva
nem a lida num monte da Arcádia
o verbo
virou ferida
ei-nos:
matéria
e ora de um poema que não conhece
nem vento nem mulher nem chuva
nem a lida num monte da Arcádia
o verbo
virou ferida
Diabólicas
He laughed to free his mind from his mind's bondage.
James Joyce
imolada na pedra
da realidade
tudo descarna em escárnio -
zomba teu último nome
se sobrevive ao diabo que sempre nega
- mas me dirás se rir é a pena que nos vale
a pena
(
fora mesmo riso
isso que ríamos?
)
domingo, janeiro 17, 2010
Algumas anotações sobre a poesia
A grande proeza e o grande fim da poesia é conferir a si mesma regras rígidas que impeçam a intuitiva articulação da linguagem submetida ao sentido e simultaneamente a necessidade de fazer transparecer algum (não este, não aquele) sentido. A verdadeira poesia, que desde já se ressente de uma palavra como "verdadeira", fará jus à sua categoria quando alcança o melhor equilíbrio possível dessas duas realidades antagônicas, e isso não se faz se não com uma profunda violência que não busca concessões nem da manifestação irrefreada do sentimento e do êxtase, nem do cálculo frio dos metros, dos ritmos e (a partir do profícuo intercâmbio entre poesia e arte plástica levado aos limites de sua potência pelo concretismo - ao que parece a última vanguarda respeitável), da configuração espacial do próprio poema.
Aos que vindicam a liberdade, dá-se o apreço dessa arte que, em verdade, nunca a negou, ao contrário do que pensam alguns vanguardamaníacos que insistem num berro iconoclasta contra ídolos já sepultos. Em poesia, liberdade não é o desbunde gratuito, pois até o desbunde é responsável consigo mesmo dentro das regras que escolheu - e nessa escolha está a verdadeira liberdade - respeitar e sacralizar. Toda profanação poética deve, pois, ser uma espécie de religião.
Aos que vindicam a liberdade, dá-se o apreço dessa arte que, em verdade, nunca a negou, ao contrário do que pensam alguns vanguardamaníacos que insistem num berro iconoclasta contra ídolos já sepultos. Em poesia, liberdade não é o desbunde gratuito, pois até o desbunde é responsável consigo mesmo dentro das regras que escolheu - e nessa escolha está a verdadeira liberdade - respeitar e sacralizar. Toda profanação poética deve, pois, ser uma espécie de religião.
sábado, janeiro 16, 2010
Deu tilt
Deixa ver se eu entendi: numa democracia, como alguns defenderam (aqui e aqui), deve-se derrubar presidente e expulsá-lo do país sob o alegado motivo de que ele pretendia eternizar-se no poder ao propor REELEIÇÃO (como de resto já há aqui, ali e acolá; inclusive no nosso bastião norte-americano da democracia); e depois congratular o líder da derrubada com um mandato vitalício que se mantém sem NENHUM VOTO?!
Porra, se eu soubesse desse prêmio eu teria deposto o FHC!
Porra, se eu soubesse desse prêmio eu teria deposto o FHC!
quinta-feira, janeiro 14, 2010
Oliver Twist - Capítulo I
De Charles Dickens, tradução minha
À medida que Oliver dava essa primeira prova de ação livre e adequada de seus pulmões , a colcha de retalhos que estava descuidadamente jogada sobre o estrado de ferro da cama ia farfalhando; então a face pálida de uma jovem ergueu-se do travesseiro preguiçosamente , e uma voz fraca articulou de modo imperfeito as palavras ‘Me deixe ver a criança . E morrer ’.
O médico estava sentado com o rosto voltado ao fogo , dando à palma de suas mãos alternativamente o calor do fogo e uma esfregada. Quando a jovem falou, ele se levantou, e indo até a cabeceira da cama disse, mais gentilmente do que se poderia esperar :
“Ah, você não fale em morte ainda ”.
“Que Deus guarde ela ! Não fale não !” interpôs a enfermeira , depositando prestamente no seu bolso uma garrafa de vidro verde , cujo conteúdo ela esteve saboreando com evidente satisfação a um canto . “Que Deus guarde ela ! Quando ela ter vivido tanto quanto eu , senhor , e tido seus próprios treze filhos , e todos eles morrido, tirando dois aqui no asilo comigo , ela vai saber melhor do agora que fala assim . Que Deus guarde ela ! Pense o que é ser mãe , aqui tá o menininho, pense.”
O cirurgião o depositou em suas mãos . Ela pressionou os lábios brancos e frios contra sua testa ; passou as mãos no rosto ; perscrutou agrestemente o lugar ; arrepiou-se; caiu para trás ... E morreu. Esfregaram seu peito , mãos e têmpora para aquecê-los, mas o sangue parou para sempre . Falaram de esperança e descanso . Eram desconhecidos por tempo demais .
“Acabou, Senhora Qualquercoisa[1]” – disse enfim o cirurgião .
“Ah, coitada , então é isso ” – disse a enfermeira , recolhendo a rolha da garrafa verde que havia caído no travesseiro quando se inclinou para pegar a criança . “Coitada !”
“Não precisa me chamar se o menino chorar , enfermeira ” – disse o cirurgião , calçando as luvas decididamente . “Provavelmente ele vai ser incômodo . Dê pra ele um pouco de mingau nesse caso .” Colocou o chapéu e, detendo-se ao lado da cama ao sair , acrescentou, “ela era bonita também ; de onde ela veio ?”
“Foi trazida aqui ontem à noite ” - respondeu a velha - “por ordem do inspetor. Foi achada chorando na rua . Caminhou um bocado , pois os sapatos tavam aos pedaços ; mas de onde veio ou para onde ia, quem sabe?”
O cirurgião se inclinou sobre seu corpo e ergueu sua mão esquerda . “A velha ladainha – disse balançando a cabeça – sem aliança , veja. Bem , boa noite !”
O médico foi embora para o jantar ; e a enfermeira , tendo mais uma vez se dedicado à garrafa verde , sentou numa cadeira baixa perto do fogo , e passou a vestir o infante .
Oliver chorava com força . Se ele então pudesse saber que era um órfão , abandonado aos favores de sacristões e de inspetores, talvez chorasse ainda mais forte .
[1] Mts. Thingummy, literalmente “Coisapegajosa”, utilizado pejorativamente para um qualquer , cujo nome não se sabe.
quarta-feira, janeiro 13, 2010
terça-feira, janeiro 12, 2010
Assinar:
Postagens (Atom)