quinta-feira, abril 28, 2011

A tecnologia a serviço do homem do campo

Você veja o que é a tecnologia. Já se pode cagar e blogar ao mesmo tempo. Chamam isto de posmodernidade: o risco de a merda parar na internet e o blog no esgoto, que é quando adquire ares de comédia stand up. Mas você veja. Hoje, 2011, já andam falando que lá no fundo, naquele império do sol que não se põe, a dinastia prepara as núpcias do infante bem no meio da tremenda crise do ópio na China. É a tecnologia. Nos anos oitenta, quando eram o Charles e a Lady Di, a notícia teve que pegar carona nas naus côncavas que partiam alegres de Salamina, ganhar tintas de melodrama com o Adamastor, conquistar a Libertadores da América, virar degregado filho de Eva em terra Brasilis e conspurcar os peitinhos das indígenas de Luanda nesta Ilha dos Amores de Falsa Cruz. Só então a Globo projetava aos escolhidos de fraque na Avenida Rio Branco o rolo com uma narração do Gandavo, cronista oficial um pouco à esquerda do Plínio S., em um texto cheio de FF, RR e LL, depois de umas notícias rápidas, em braile, sobre o suicídio do Getúlio encurralado no Cerco da Lapa pelos Bichos do Paraná e o confronto da polícia com tupinambás-sem-putos no Eldorado dos Carajás. Olha, eu nem acredito que já se fala nisso, você veja o que é a tecnologia, posto que ainda ontem duvidavam das cinzas de Castello Branco, e os príncipes nem casaram ainda. (Ora, o Castello Branco?!) É, ele também morre, e vira estrada e romancista, embora você duvide. A ditadura também; mas disso ninguém sabe, muito menos ela, megera de célebre família furibunda. Nem o casalzinho vinte cuja foto acabei de receber enquanto tuitava um fax do meu loução gadget.

terça-feira, abril 26, 2011

Sobre a solução para a humanidade

Senhores, estive a dois dedinhos de encontrar a solução para a humanidade, mas a epifania deixou-se perder quando topei com o mindinho do pé no pé da mesa. Foi-se um dos dedinhos e restou uma ponta solta no fio da meada.

Entre mortos e feridos, no entanto, ficam-se os anéis. Já sabemos, pelo menos, porque não desprezamos jamais o acaso, que qualquer solução para a humanidade deve inevitavelmente passar pela gradual eliminação de pés de mesa e quinas em geral.  E, não lembro por quê, nas elocubrações que desenvolvia a eliminação deste instituto chamado a noite curitibana afigurava-se também bem proseável.

sábado, abril 16, 2011

Malthusianismo aplicado

Considerando o crescimento em progressão geométrica da população (e com ela o de torcedores) em comparação com o crescimento em ritmo macunaímico de estádios de futebol e seus lugares para os espectadores, um jogo programado para certa hora do dia deverá ocasionar filas cada ano mais cedo, até que o homem, em, calculo, dez anos, substitua o totalitarismo do mercado de trabalho pelo das filas, e tenha de organizar cada aspecto de sua vida em função delas, se antes não morrer de fome devido ao crescimento em progressão apenas aritmética dos churrasquinhos de gato observado nas imediações do Couto Pereira.

sábado, abril 09, 2011

Filoctetes de Sófocles, versos 446-452

         ἐπεὶ οὐδέν πω κακόν γ' ἀπώλετο,
ἀλλ' εὖ περιστέλλουσιν αὐτὰ δαίμονες·
καί πως τὰ μὲν πανοῦργα καὶ παλιντριβῆ
χαίρουσ' ἀναστρέφοντες ἐξ Ἅιδου, τὰ δὲ
δίκαια καὶ τὰ χρήστ' ἀποστέλλουσ' ἀεί.
Ποῦ χρὴ τίθεσθαι ταῦτα, ποῦ δ' αἰνεῖν, ὅταν
τὰ θεῖ' ἐπαινῶν τοὺς θεοὺς εὕρω κακούς; 

          Não se destrói nenhum dos males,
senão que bem os vestem os demônios.
E assim como, felizes, os corruptos
e embusteiros levantam-se do Hades,
os pios e justos sempre se abandonam.
Como aceitá-lo, como consenti-lo,
se os deuses que o aprovam eu deploro?


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O que lembra os versos de Hopkins:

Thou art indeed just, Lord, if I contend
With thee; but, sir, so what I plead is just.
Why do sinners' ways prosper? and why must
Disappointment all I endeavour end?


Senhor, és justo, eu sei, mas se te ouso agora
Contraditar, também é justo este meu pleito.
Por que somente o mau prospera e sempre gora
Meu sonho de florir, desolado e desfeito?
(Trad. Augusto de Campos)

terça-feira, abril 05, 2011

Verbete: Meritocracia

Sistema social meio BDSM que anuncia como critério para distribuição de suas riquezas o nível de submissão cachorrônica do indivíduo aos sisudos valores deste mesmo sistema; valores cuja expressão mais feliz está no outdoor daquela faculdade oferecendo um curso a distância de dois anos e que você, orgulhoso esforçado, já adivinhou ser "mercado de trabalho". Como não poderia deixar de ser no homem - esse humano torto -, a efetiva distribuição sofre um ligeiro desvio-padrão, e o verdadeiro premiado é aquele ridiculionário forbes-hobbesiano que, ao contrário de você, aprendeu que esses valores são apenas uma brincadeira inocente de papel dobrável no origami mais conveniente para botar no seu (isso mesmo: no teu) forbes particular.

Trata-se do programa oficial da esquereita brasileira.