domingo, novembro 29, 2009

Existenciais

agora posso saber

E até ter a pretensão

De existir:

Eu falto a ela! E outra vez:

Falto! - a prova primeva

De que sou

(Mesmo que não mais, não mais

Que uma saudade, não mais

Que não mais,

A estrangular o peito

Bem mais que gentil, bem mais

Que bem mais,

Em que estou falto e sou farto e

Forte que nem uma falta).

.

Serei gênio jamais lido

(E acaso o fosse, não mais

Gênio, mas

O impostor dessa gélida

Melancolia insanguínea da

Frustração).

Núncio das patentes sem

Invenção alguma para

Dar-lhe um nome.

Aquele que se agora

Na esquina a ver a história

Que ali vai

Furando sinais ao largo

De sua presença curta.

.

Serei o que morre – mas não!

Serei um que morre, um mais

Que morre sob o epigrama

De papéis cartoriais.

.

(Mas falto – e já sou mais.)

sexta-feira, novembro 20, 2009

Migalhas

homem vil homem
vil
se quer saber
o que construiu
tua vida assassina
essa sina de vida
esse sino do campo
do campanário do sono
no seio do povo
sem dono dormentes
adolediscentes
dissentes em bando
abandono
abrandando

olvida da vida o contingente acidente
o ato potente de ser impotente
o não presente em todo vão
que há no sim, no vim, no vi, no venci
apesar-de-si que em todo si é apenas si
apenas ri, é dó é ré é mi é ni
ilismo do fato, do gato e sapato, do ato
mo o tomo utopia o tomismo, el mismo
que é outro, que é porco, que é fosso,
que é morto que é

contempla só os rastos
nos restos do arrasto.

domingo, novembro 15, 2009

Questões de tempo

a sombra refrescante de uma árvore
derrubada no quintal de minha casa
demolida no vende-se de um catálogo

o doce-de-leite na panela da minha jovem vó
esquecida das receitas dos doces-de-leite
embalados nas compras da minha velha vó

ontem perdido teu lindo rosto
achado hoje no abrir-fechar das portas
trancadas num quando sutil do amanhã

o futuro anunciado:
o que tens não te detém
morrerá e então te terá

terça-feira, novembro 10, 2009

Poéticas - Transposição do Beco do Bandeira

não há mais nada
a se ver não há
na janela dos prédios

nem Corcovado nem mar
nem Cristo nem lago
nem Curitiba não há

e daqui, nem o beco.
sequer um beco em volta
a dar de comer à revolta
da minha escrivaninha

quinta-feira, novembro 05, 2009

Lógicas do sentido - o seio

Só quem ousou tocar a lira
Rainer Maria Rilke


Do belo vem-me os manuais
Dos que vindicam seios mais.
Mas essa vista bem treinada
É o toque morto da palavra.

Sabemos ver, mas não tocar:
Quem não tocou teu tenro seio
Vem vindicar os seios mais
Que mais à vista nos avultam.

Por isso insultam nossas mãos
Os fartos seios visuais:
A imagem já é bem treinada,
Suplanta as mãos que nem palavra.